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Segundo dia – Vocação franciscana de Santo Antônio.
Santo Antonio amou a Deus por Deus. Não se deixou prender a essas suavidades que a tibieza nos leva a procurar nos prazeres sensíveis e mesmo nos exercícios espirituais, o que faz com que não se encontre Deus, porque a alma dele se afasta. Vida por vida, alma por alma, amor por amor, imolação total de si mesmo para a glória de Deus: era a divisa de Antonio.
Ora, enquanto ele estava no Convento de Santa Cruz, levaram com grande pompa as Relíquias de 5 franciscanos que tinham regado com seu sangue as terras da África. Ninguém se enterneceu mais que ele com o esplendor dessas festas. “Óh”! Exclamava, contemplando os preciosos despojos. “Oh! Se o Altíssimo se dignasse associar-me a seus gloriosos sofrimentos! Se me fosse dado ser perseguido pela fé, dobrar o joelho e oferecer minha cabeça ao carrasco! Fernando, esse dia brilhará para ti? Fernando, terás essa felicidade”? Não se contém mais: sua alma, jovem, inocente, generosa, toda abrasada de amor por Deus e do desejo do céu, só tem uma ambição – o martírio, quer dizer, testemunhar a Deus seu amor pelo sacrifício da vida no meio dos tormentos. Mas como conseguir isso?
Os Santos Mártires ouviram os suspiros do jovem Fernando e, para responder-lhe, enviaram-lhe religiosos de São Francisco, aos quais poderia falar de seus projetos. “Desejo com todo o ardor de minha alma, disse-lhes confidencialmente, tomar o hábito de vossa Ordem. Estou pronto a tudo fazer, com a condição de, depois de me terdes revestido das librés da penitência, me enviardes ao País dos sarracenos, para que também mereça ter parte na coroa de vossos mártires”.
A aprovação não se fez esperar. Dom Fernando foi recebido de braços abertos na Ordem de São Francisco, com o nome de Antonio. Os superiores guardaram a palavra. Admitiram-no, após o noviciado, à profissão, e enviaram-no às plagas da África, onde são Bernardo e seus companheiros receberam a coroa do martírio. Mas Deus reservara a Antonio outra glória. Queria fazer dele uma vítima do amor Divino e destinava-o a propagar a Ordem Seráfica.
Ó verdadeiro herói da Cruz de Jesus Cristo, Santo Antonio, vossa conduta condena minha lassidão! Caminhais de virtude em virtude; sem considerar o que já fizestes por Deus, não olhais senão o que de mais perfeito vos resta fazer. Quereis Deus por Deus, sem procurar o amor-próprio. Longe de desfalecerdes em vosso fervor e generosidade, estudais todos os meios capazes de aumentá-lo. Ide, então, ao Altar imolar-vos, vítima puríssima; vosso exemplo servirá de aguilhão a minha indiferença. Contemplando-vos, tomarei sentimentos de generosidade. Deus só! Será minha divisa, e Sua Soberana Vontade, minha regra de conduta...
Exemplo: Um jovem noviço, cedendo a um pensamento de desânimo, resolveu voltar ao mundo. Perder a vocação é sempre uma desgraça e às vezes desastre irreparável. Santo Antonio foi advertido, por uma revelação, da tentação e das angústias do jovem noviço. Procurou-o, encorajou-o e disse-lhe, soprando-lhe na boca: “Recebe o espírito de força e sabedoria”. Imediatamente o noviço caiu como morto, enquanto sua alma em êxtase era transportada ao céu. Quando recuperou os sentidos, quis contar o que vira, mas o Santo lho proibiu. A tentação desapareceu e o noviço tornou-ser religioso exemplar.
Máxima de Santo Antonio: “Quem não poder fazer grandes coisas facão menos o que estiver na medida de suas forças; certamente não ficará sem recompensa”.
Oração: Meu amado protetor, Santo Antonio, em consideração de vosso heróico amor a Deus e do ardente desejo do martírio que vos abrasava, peço-vos obter-me força, coragem e resignação para sustentar, ao menos com paciência e sem queixa, as provações e as adversidades que forem da Vontade do céu enviar-me. Aceito-as, em expiação de meus pecados; espero, com o socorro de vossas preces, ser mais generoso e constante em minhas boas resoluções. Ainda vos renovo o pedido pelo qual comecei esta Trezena. Assim seja.
Ladainha de Santo Antonio... Responso em honra de Santo Antonio...
Pai Nosso... Ave Maria... Glória...
Terceiro dia – Humildade de Santo Antônio.
Desejar ser ignorado e reputado por pouco é a perfeição da humildade. Abaixar-se em todas as coisas e colocar-se abaixo de todos para crescer diante de Deus, morrer a si mesmo, para fazer triunfar a Glória de Deus: tal é o ideal que seguirá Santo Antonio. Não podendo receber o martírio de sangue, devotar-se-á sem medida ao martírio da renúncia. Escondeu seus talentos com tanto cuidado, que durante muito tempo os confrades olharam-no quase como ignorante. Tão reservado era na conversação que passava por imbecil, e só lhe confiavam os empregos mais vulgares do Convento. Enfim, mais por piedade que por satisfação, o Padre Guardião do Convento de Monte Paulo encarregou-o da lavagem da louca e da limpeza da casa. Santo Antonio tudo aceitou sem dizer a menor palavra sobre sua origem e sem a menor alusão aos vastos conhecimentos teológicos recebidos. Conhecer Jesus, e Jesus Crucificado, amá-Lo, unir-se a Ele, era a única ambição.
Perfeito discípulo de Jesus Cristo e do Patriarca São Francisco, Antonio de Pádua, todas as gerações admirarão essa profunda humildade. Ornado de todos os Dons da natureza e da Graça, vos acháveis incapaz de ser útil aos outros e escolhíeis sempre o último lugar. Satisfeito com o Olhar de Deus, evitáveis os louvores humanos. Oh! Que contraste com minha conduta, como temo examinar-me! Como posso nutrir tanto orgulho, com tamanhos defeitos, enquanto que vós, cheio de méritos, não vedes ninguém abaixo de vós? Também, estou castigado de meu orgulho e presunção por minhas recaídas contínuas e pela ausência de todo o favor celeste!
Exemplo: Os fariseus, confundidos por Cristo Jesus, maquinaram sua morte. Assim fizeram os heréticos de Romanha, em relação a Santo Antonio de Pádua.
Vencidos pelo taumaturgo, resolveram vingar-se, insultando-o. para isso, convidaram-no para um jantar e lhe ofereceram uma bebida envenenada. Por Inspiração Divina, o Santo conheceu o perigo que lhe estava reservado e repreendeu-os severamente. Não desanimaram e juntaram à crueldade as zombarias, dizendo: “Credes ou não no Evangelho? Se Nele credes, por que duvidais da Promessa de vosso Mestre: “Meus discípulos expulsarão os demônios e os venenos não lhes farão mal”? Se não credes na verdade do Evangelho, por que o pregais? Tomai o veneno; se ele não vos fizer mal, juramos abraçar a fé católica”! “Eu o farei, replicou Santo Antonio, não para tentar a Deus, mas para provar-vos quanto é do meu desejo a salvação de vossas almas e o triunfo do Evangelho”. Fazendo o Sinal da Cruz sobre a bebida envenenada, tomou-a sem sofrer a menor indisposição. Os heréticos por sua vez foram fiéis ao juramento e entraram no Grêmio da Igreja.
Máxima de Santo Antonio: “A humildade é o começo das boas ações, como o botão é o começo da flor”.
Oração: Meu Santo Protetor, Glorioso Santo Antonio, dignai-vos pedir por mim. Se Deus nada recusa às Almas humildes, obtende-me a graça da humildade, que é o fundamento de todas as virtudes. Se até hoje minha vida nada mais foi que contínuas recaídas, compreendo, foi em conseqüência de meu orgulho; se sou tão pouco paciente, tão pouco caridoso, tão pouco obediente, é ainda por causa de meu orgulho; se sou vítima de minhas paixões, molestando o próximo, a origem é sempre o orgulho. Espero em vós, grande Santo; ajudai-me a corrigir-me desse incrível defeito, e não me recuseis vossa assistência pela graça que vos solicito durante esta Trezena.
Santo Antonio, desejo imitar-vos. Assim seja.
Ladainha de Santo Antonio... Responso em honra de Santo Antonio...
Pai Nosso... Ave Maria... Glória...
Quarto dia – Obediência de Santo Antônio.
A obediência é a pedra de toque da verdadeira humildade. Quanto mais uma alma se despreza, mais agrada a Deus e mais facilmente se submete às ordens dos que o representam. É o que nos mostra Santo Antonio. Apesar do grande atrativo para a vida humilde e escondida, à voz da obediência, renunciava sem hesitação a seus desejos, revelava seus talentos e corria aonde os superiores o chamavam. Foi a essa dependência absoluta antes que aos talentos que se atribuíram todas as maravilhas de sua vida apostólica. Deus disse: “O homem obediente caminhará de vitória em vitória”. Santo Antonio esforçava-se também na prática dessa virtude; foi à África procurar o martírio por obediência; voltou a Itália por obediência; ficou escondido por obediência; se prega, se ensina teologia, se compõe obras, é ainda por obediência; se exerce o cargo de guardião ou de provincial, é sempre por obediência. De uma parte, fundado sobre a humildade, não se julga bom para nada; dirigido pela obediência, sente-se capaz de tudo empreender, de tudo fazer. Eis o verdadeiro Santo! Eis o único meio de fazer frutificar o talento que Deus nos confia; eis o caminho mais curto, para chegar ao céu.
Ó feliz Santo Antonio, Modelo de obediência, tesouro de perfeição, não vos credes bom senão para obedecer; só estimais a dependência e a submissão; e eu, com todos os meus defeitos, estou cheio de presunção e apegado às minhas idéias. Revolto-me contra a dependência e, se obedeço, é só imperfeitamente. Meu Santo Protetor, serei mais tempo joguete de meu amor próprio, escravo de minhas vontades? Quanto tempo perdido, a quantos prazeres me entreguei inutilmente, sem proveito para os outros, sem sucesso para mim, porque minhas ações não eram dirigidas pela obediência!
Exemplo: Achava-se um dia Santo Antonio na cidade de Rimini, na Romanha, procurando um meio de levar a Deus as multidões que as paixões desgarravam. Implorou a proteção do criador e fez sinal ao povo para segui-lo à praia e conduziu-o à embocadura do Rio Marecchia. Aí, voltando-se para o Adriático, clamou em alta voz: “Peixes do rio, peixes do mar, ouvi. Quero anunciar-vos a Palavra de Deus, uma vez que os heréticos recusam ouvi-La”. À sua voz as ondas agitaram-se; inúmeras tribos desses habitantes, que povoam o mar, correram para aquele que os tinha chamado. “Meus irmãos peixes, disse-lhes o taumaturgo, deveis ao Criador um reconhecimento sem medida. Foi Ele que vos designou para morada esses imensos reservatórios. Foi Ele que vos deu essa casa nas profundezas das águas, para refúgio na tempestade; deu-vos nadadeiras para irdes aonde quiserdes e vos forneceu a comida de cada dia. Criando-vos, ordenou crescerdes e multiplicar-vos e abençoou-vos. No Dilúvio Universal, enquanto os outros animais pereciam nas águas, conservou-vos. Fez-vos a honra de escolher-vos para salvar o Profeta Jonas, fornecer o tributo ao Filho do Homem e servir-lhe de alimento antes e depois da Sua Ressurreição.
Louvai e bendizei ao Senhor, que vos favoreceu entre todos os seres da criação”.
Atentos, como se fossem dotados de inteligência, os peixes testemunhavam por movimentos que tinham prazer em ouvir o Santo e queriam dar a Deus o mudo tributo de suas adorações.
“Vede, exclamou Santo Antonio, voltando-se para os heréticos, admirai como criaturas privadas da razão ouvem a Palavra de Deus com mais docilidade que os homens criados à Sua Imagem e Semelhança”!
Máxima de Santo Antonio: “A verdadeira obediência é humilde, devota, diligente, jovial e perseverante”.
Oração: Santo Antonio, eis a vossos pés um miserável orgulhoso que até hoje só quis sujeitar-se a si. É com inteira confiança que venho pedir-vos para obter-me, pelos méritos de vossa obediência, mais esta virtude em que tanto sobressaístes e sem a qual não posso agradar a Deus. Reconheço hoje, que a minha vontade própria é o maior obstáculo que encontro no caminho da perfeição. O Exemplo de Jesus obediente deveria fazer-me compreender mais depressa a necessidade do desprendimento e da obediência. Confesso-me bem culpado e sem desculpa. Meu Santo Protetor, rogai por mim; fazei também que, por vosso intermédio, obtenha a graça que reclamo, especialmente durante esta Trezena. Assim seja.
Ladainha de Santo Antonio... Responso em honra de Santo Antonio...
Pai Nosso... Ave Maria... Glória...
Quinto dia – Zelo apostólico de Santo Antônio.
Santo Antonio, morto a si mesmo pela humildade, vivendo pela obediência aos superiores, agindo pelo amor de Deus, levado ao próximo pela caridade, devia naturalmente estar animado de verdadeiro zelo apostólico. Para livrar as almas do inferno, nada lhe custa; não se cansa de pregar, castigar o corpo pelos que não o fazem, chora pelos que não choram; humilha-se pelos que não se humilham; perdoa pelos que não perdoam e obedece pelos que não obedecem. Seus amigos são os fracos e os aflitos. Cheio de bondade para com os humildes, é, entretanto, sem piedade para com os orgulhosos, como o Divino Mestre, ameaça-os com a Cólera Divina! A Exemplo do Seráfico Pai, quer, com os maiores sacrifícios, ganhar almas, muitas almas para Deus! Para chegar a esse resultado, far-se-á tudo para todos, como o grande Apóstolo. Não é isso bastante? Pede ao céu prodígios para tocar os corações. Todos lhe obedecem, sua palavra brilhante, poderosa, é como um gládio de pontas afiadas; atinge até a divisão da alma e do espírito. Sua caridade torna-o também útil a todos. Quem poderia contar quantos pecadores lhe devem a salvação! E em quantos corações acendeu as chamas do Amor Divino!... Não é sem razão que a piedade dos povos chama Santo Antonio de: homem apostólico.
Ó grande Santo Antonio, vós vos esquecestes a vós, para só pensardes nos interesses dos outros! Compenetrado do preço de uma alma, daríeis vossa vida para ganhá-la a Deus. Não contente de fazer ouvir a Palavra Divina, ofereceis diariamente, pelos pecadores, o sacrifício de vós mesmo pela mortificação e penitência. Considerando vosso zelo, deploro minha culpada indiferença. Coloco sempre os interesses temporais acima dos espirituais; só sinto aborrecimento e fadiga na oração e mortificação: ouço a Palavra de Deus apenas por curiosidade e com bastante frieza. Faço sacrifícios pela terra e nada para o céu.
Exemplo: Um dia, em Tolosa, um rico e poderoso incrédulo, chamado Guialdo, teve longa discussão com Santo Antonio, sobre o Dogma, para ele inadmissível, da Presença Real de nosso Senhor na Eucaristia! “Que”! Replicou o homem de Deus, “o muçulmano crê na palavra de Maomé; o filósofo, no testemunho de Aristóteles; e vós, cristão, recusais crer na afirmação tão nítida e tão luminosa do Homem-Deus”. Crer não basta, respondeu o incrédulo; queria ver!
Irmão Antonio, disse ao apóstolo, se puderdes demonstrar por um fato sensível o que demonstrais pela razão, abjurarei as minhas crenças e abraçarei a vossa. Aceitais a proposta? Certamente, respondeu o Santo. Tenho uma mula, continuou o herege, prendê-la-ei e deixá-la-ei em jejum durante 3 dias. No fim desse tempo levá-la-ei à praça pública em presença de todos, e lhe apresentarei a ração de aveia. Por vosso lado lhe mostrareis a Hóstia, que, segundo as vossas palavras, contém o Corpo do Homem-Deus. Se a mula rejeitar a aveia para ajoelhar-se diante da Hóstia, eu me declararei católico.
No dia marcado, na praça, entre as zombarias de uns e apreensões de outros, apareceu o apóstolo com o Santíssimo Sacramento e o herege com a mula. Era solene o momento. Antonio impôs silêncio, e, virando-se para o animal, lhe disse: “Em Nome de teu Criador, que trago, embora indigno, em minhas mãos, conjuro-te e ordeno-te, ó ser desprovido da razão, a vir imediatamente prostrar-te diante Dele, para que os hereges reconheçam, por esse ato, que toda a criação está sujeita ao Cordeiro que se imola sobre nossos Altares”. Ao mesmo tempo ofereceram à mula o que reclamava seu estômago, e ela, dócil à voz do taumaturgo, sem tocar na aveia, avança, dobra os joelhos diante do Santíssimo Sacramento, em atitude de adoração. A vitória do Santo foi completa. O herege confessou lealmente suas faltas, e, fiel à palavra que empenhara, abjurou publicamente seus erros.
Máxima de Santo Antonio: “Embora Deus seja paciente, porque é bom, pune, entretanto, porque é justo”.
Oração: Ó meu bem amado protetor Santo Antonio, suplico-vos, pelo zelo da salvação das almas, que vos fez suportar tantas fadigas, obtende-me um verdadeiro ardor para trabalhar na minha salvação. Fazei-me compreender a rapidez do tempo, a vaidade do mundo, a malícia do pecado e os bens do céu. Sereis, hoje, menos zeloso da glória de Deus e do bem das almas do que o fostes durante vossa vida terrestre? Sereis menos poderoso para tocardes os corações e esclarecerdes os espíritos? A confiança que em vós deposito poderá tornar-se enganadora e sem resultado? Não, grande Santo, como testemunho do contrário, tenho a palavra do responso que me garante que, se para salvar-me fora preciso um milagre, a vós deveria recorrer. Peço-vos, então, este prodígio, assim como o favor que constitui o objeto especial desta Trezena. Assim seja.
Ladainha de Santo Antonio... Responso em honra de Santo Antonio...
Pai Nosso... Ave Maria... Glória...