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História
Manto de São José
"Seja qual for o vosso trabalho, fazei-o de boa vontade, como para o Senhor, e não para os homens, cientes de que recebereis do Senhor a Herança como recompensa... O Senhor é Cristo"
(Col 3, 23-24)
O MANTO DE SÃO JOSÉ
Por aqueles dias, São José devia dirigir-se às montanhas de Hebron, onde tinha ajustado um carrego de madeira; mas vinha adiando a partida dia após dia, na tentativa de reunir o dinheiro necessário. Porém, os dias passavam e José não conseguira reunir senão metade do dinheiro. E o caso é que já não podia esperar mais; era preciso servir os clientes e, portanto, ir buscar a madeira.
- Se vos parece bem - disse-lhe a Santíssima Virgem; - pedirei emprestado aos parentes o dinheiro que falta.
- Eu mesmo irei - respondeu São José.
- Não, Esposo meu - suplicou Maria; - deveis fazer uma longa viagem e não vos deveis cansar - e cobrindo a cabeça segundo o costume, saiu de casa. Ao regressar disse-lhe:
- Não há dinheiro. Pedi em várias casas e todas se desculparam; com certeza não o têm porque se o tivessem, porque se negariam a emprestá-lo? Mas pensei uma coisa, - continuou Maria, ocultando sob um doce sorriso o sentimento do seu coração - pensei que podíeis deixar o vosso Manto como garantia até poder pagar e com isso o dono da madeira com certeza dar-se-ia por satisfeito.
- Pensastes bem - disse São José, baixando os olhos, para que a Sua Virginal Esposa não os visse rasos de lágrimas.
- Adeus, esposo meu - disse Maria ao despedir-se; - O Deus de Abraão vos acompanhe e o seu Anjo vos guie.
- Adeus esposa minha; procurarei regressar depressa.
E, partiu o Santo com a metade do dinheiro e o Manto novo que Maria lhe oferecera no Dia do Casamento.
- Deus te abençoe Ismael - disse o Pai Adotivo de Jesus de modo cortês ao chegar à presença do dono da madeira contratada.
- Vens buscar a madeira? - foi a resposta à saudação de José - bem podias ter vindo antes; pouco faltou para que ficasses sem nenhuma.
Ismael tinha mau feitio, era um avarento sem coração, a sua casa nunca conhecera a paz, a sua paixão era o dinheiro e tudo isto sabia José desde que negociava com ele; por isso já podemos imaginar a aflição que sentia o humilde Carpinteiro por ter que declarar o estado das suas finanças. Escolheu a madeira, pondo-a de lado, e chegado o momento chamou à parte Ismael e falou-lhe assim:
- Não trago comigo senão a metade do dinheiro; mas tu sabes que sempre te paguei até à ultima moeda. Tem um pouco de paciência e pagar-te-ei até ao último quadrante; entretanto fica com este Manto como garantia.
Ismael protestou e voltou a protestar, de tal modo que esteve a ponto de desfazer o negócio, mas no fim acabou por ceder, se bem que de mau grado, ficando com o Manto do Casamento de São José como garantia até que este pudesse pagar.
O avaro Ismael tinha doentes os olhos desde havia tempos e apesar de investir muito di-nheiro em medicinas e médicos não conseguira ainda recuperar a saúde; tinha já perdido a esperança de se curar, pelo que foi grande a sua surpresa quando na manhã seguinte a este dia, constatou que os seus olhos estavam sãos como se nunca tivessem estado doentes.
- Mas o que é isto?! - perguntava-se; - Ontem doentes com úlceras incuráveis, e hoje sãos sem medicina alguma!
Não atinava Ismael com a razão de tudo aquilo e ao chegar a casa contou à esposa o pro-dígio. Eva, assim se chamava a mulher, era uma verdadeira serpente, tinha um gênio de fera, e desde que casara com Ismael jamais havia tido paz, nem tranquilidade, nem gosto no matrimônio; mas aquela noite parecia um cordeiro. Que doçura a das suas palavras! Que mansidão! Que alegria no seu rosto antes sombrio e enrugado pela ira!; "Que é isto? Que mudança é esta? Quem traria tal mudança?" - perguntava-se Ismael.
- Toma este Manto e guarda-o - disse Ismael a Eva; - É de José, o Carpinteiro de Nazaré, e há de voltar por ele. Este Manto deve ser a explicação de tudo o que está a acontecer - pensou para si Ismael; - Desde que o tenho em meu poder sinto em mim tal mudança, tais afetos e tais desejos, que não pode ser outra a causa.
Ouviram então barulho no estábulo e, terminando a conversa, acudiram para ver do que se tratava.
Uma vaca, a melhor, a mais gorda, retorcia-se no chão. Pobre animal! Apesar dos remédios que ambos esposos lhe administravam não melhorava; pelo contrário, parecia ir apagar-se a qualquer momento. Lembrou-se então Ismael do Manto de José e comunicou a Eva os seus pensamentos; nada tinham a perder; mas se a vaca se curasse, saberiam que o Manto era a causa da sua sorte e do bem-estar que desfrutavam.
Assim que lhe puseram o Manto em cima o animal levantou-se do chão onde antes se re-torcia e pôs-se a comer como se nada tivesse acontecido.
- Vês? - disse Ismael, - este Manto é um Tesouro. Desde que está em nossa posse somos felizes. Conservemos este presente dos céus; não nos desprendamos dele nem por todo o ouro do mundo.
- E não o devolveremos ao dono? - perguntou Eva inquieta.
- Não lhe devolveremos - respondeu Ismael resolutamente.
- Então, - disse Eva - vamos comprar-lhe outro melhor que este no mercado de Jerusalém e, se te parece bem, iremos os dois levar-lhe.
- Sim - respondeu o marido. - Eu perdoo-lhe a dívida e estou disposto a dar-lhe daqui em diante toda a madeira que ele necessitar.
- Não disseste que tem um filho chamado Jesus? - perguntou Eva. - Levar-lhe-ei de presente um par de cordeiros brancos e um par de pombas alvas como a neve. E a Maria, azeite e mel. Parece-te bem, esposo meu?
- Tudo me parece excelente - respondeu. - Amanhã iremos a Jerusalém e dali a Nazaré.
Já estavam os camelos preparados para a viagem quando chegou ofegante um irmão mais novo de Ismael dizendo que a casa de seu pai estava a arder e era preciso levar o Manto do Carpinteiro para apagar o incêndio. Não havia tempo a perder. Os dois irmãos correram precipitadamente para casa do pai e ao chegar cortaram um pedaço do milagroso Manto e atiraram-no ao fogo. Não foi necessário derramar uma só gota de água; aquilo foi o bastante para apagar o incêndio. As gentes admiraram-se ao ver tal prodígio e louvaram o Senhor.
- Que aconteceu? - perguntou Eva ao vê-los de volta, - Já se extinguiu o fogo?
- Sim - respondeu o esposo satisfeito; - um pedaço do Manto bastou para realizar o milagre.
Dias depois apeavam-se dos camelos à porta do Carpinteiro de Nazaré. Ismael, o antigo avarento, e Eva sua esposa, vinham cheios de humildade prostrar-se aos pés de José e Maria e trazer-lhes vários presentes. Ao vê-los, São José e a Santíssima Virgem Maria pensaram que vinham reclamar o dinheiro em falta e encheram-se de tristeza, pois ainda não tinham conseguido reuni-lo. Mas ao entrarem na casa onde José, Maria e o Menino Jesus se encontravam, puseram-se ambos de joelhos e tomando Ismael a palavra disse:
- Vimos, minha esposa e eu, agradecer-Te pelos imensos bens que recebemos do Céu desde que me deixaste o Manto como garantia; e não nos levantaremos daqui sem obter o Teu consentimento de ficarmos com ele para que continue a proteger a minha casa, o meu casamento, os meus interesses e os meus filhos.
- Levantai-vos - disse José, estendendo as mãos para os ajudar.
- Oh, Santo Profeta! - respondeu Ismael num arroubo espiritual; - permite ao teu servo que fale de joelhos e ouve estas palavras: os meus olhos estavam doentes e o Teu Manto curou-os; era usureiro, altivo, rancoroso e homem sem coração e converti-me a Deus; minha esposa estava dominada pela ira e agora é um anjo de paz; deviam-me grandes quantias de dinheiro e cobrei tudo sem trabalho algum; estava doente a melhor das minhas vacas e curou-se de repente; incendiou-se a casa de meu pai e extinguiu-se o fogo instantaneamente ao atirar para o meio das chamas um pedaço do Teu Manto.
- Louvado seja Deus por tudo! - disse baixando os olhos o Santo Carpinteiro. - Levantai-vos, que não está bem que estejais de joelhos diante de um homem tão humilde como eu.
- Ainda não terminei - respondeu Ismael. - Tu não és um homem como os outros, mas um Santo, um Profeta, um Anjo na terra. Trazemos-Te um manto novo, dos melhores que se tecem em Sídon; a Maria Tua Esposa trazemos-lhe azeite e mel, e a Jesus, Teu Filho, oferece-lhe minha esposa um par de cordeiros brancos e um par de pombas mais alvas que a neve do Líbano. Aceita estes humildes presentes, dispõe da minha casa, do meu gado e dos meus bosques, das minhas riquezas, de tudo o que possuo e... não me peças de volta o Teu Manto!
- Ficai com ele! - disse o Santo Carpinteiro; - e graças, muitas graças pelas vossas ofertas.
E enquanto se levantavam do chão e aproximavam os presentes, disse-lhes Maria;
- sabei, bons esposos, que Deus determinou benzer todas as famílias que se coloquem sob o Manto Protetor do meu Santo Esposo. Não vos espantem, pois, com os prodígios operados; outros maiores vereis; amai José, servi-O, guardai o Manto, dividi-O entre os vossos filhos, e seja esta a melhor Herança que lhes deixeis no mundo.
...E é sabido que os esposos guardaram fielmente os Conselhos da Santíssima Virgem Maria e foram sempre felizes, assim como os seus filhos e os filhos dos seus filhos.